quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Cálice (Chico Buarque/Gilberto Gil)

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade
Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça

Essa música do Chico Buarque também diz respeito a época da ditadura militar, e é mais um convite para que as pessoas se rebelassem contra o autoritarismo da época. Quando ele diz "cálice", está se referindo a ditadura, e vale lembrar que a palavra cálice tem o mesmo fonema que a palavra "cale-se", e assim Chico Buarque faz um jogo de palavras, onde quer passar essa ideia. Quando ele diz "de vinho tinto de sangue", representa as mortes, os assassinatos, que houveram na época. Fala a respeito da falta de liberdade. Quando ele diz "quero lançar um grito desumano, que é uma maneira de ser escutado" ele está retratando o desejo da população, que pudessem ser ouvidas pelos ditadores. Quando ele diz "como beber essa bebida amarga", quer dizer, amarga para toda a população, diante das opressões exercidas sob as pessoas. Criticando a ditadura e a falta de liberdade de expressão: “Pai, afasta de mim esse cálice” sendo sua intenção: “Pai, afasta de mim esse cale-se”. Retrata a insatisfação, o sofrimento da população por tudo o que aconteceu, o desaparecimento de presos políticos, o exílio, as torturas, a censura a dor das pessoas devido suas perdas, o desprezo a opinião pública e o tudo que envolve as grades que os aprisionavam mesmo dentro da liberdade por completa vigiada. Apesar de nós não termos vivido essa época, nós sentimos toda a dor da população, pois também fazemos parte dessa nação, e sabemos o quanto foi sofrido para conquistar a "liberdade" que hoje desfrutamos.

Video da música: http://www.youtube.com/watch?v=wV4vAtPn5-Q
Comentado por Aline Fonseca.

2 comentários:

  1. Muito bem Aline. Bela leitura.
    Um abraço!

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  2. aline sempre muito profunda, gosto muito das músicas de chico porque ele fala do que eles estavam passando vivenciando a ditadura militar.
    andreza dantas

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